domingo, 27 de setembro de 2009

Limiares Perdidos

Pois é. Lembra do que disse no 1º post, no qual eu não conseguia dar continuidade as minhas coisas, sempre deixando elas pelo caminho e dando prioridade a outras novas? Não imaginei que isso fosse acontecer tão cedo com esse blog. Nem para os meus padrões isso é normal. Mas, enfim, cá estou de volta, dialogando para mim mesmo e as paredes nesse dado momento, num dt -> 0 (piadinha de físico, deixem pra lá).

Eu passei os dias posteriores ao da última postagem pensando em zilhões de temas para se falar, desenvolver, abordar, citar, etc. mas não levei nenhum deles adiante. Ainda os tenho em mente, mas simplesmente não consigo transmutá-los da massa abstrata de pensamentos e sinapses cerebrais em letras decodificadas em algum database. Talvez seja a anestesia do outro tópico, atuando mais e mais forte em minhas veias e embebendo-me em puro sumo de indiferença e descaso para com tudo, para comigo mesmo. Mas, enfim, eis que algumas idéias surgem e urge a necessidade de colocá-las no papel (ou na tela do computador).

Nesses dias, vi no perfil de uma amiga a seguinte frase: Par perfeito: aquele que acha o limiar entre a inteligência e paixão a coisa mais linda do mundo. A frase não era bem essa, certamente, mas a essência sim. Quando li isso, logo recordei do meu próprio eu no passado, coisa de 3-4 anos atrás no máximo. Pensava, até então, que o mais interessante não era tornar-se um ser totalmente racional, frio e robotizado, não deixando espaço para suas ações por algo que não seja falseável ou não esteja de acordo com seus algoritimos de protocolos. Mas também não achava boa a idéia de ser totalmente orientado pelas explosões emocionais e instintos sentimentais, isso levava sempre a muita angústia, sofrimento e frustação. Explorar e passear pelas fronteiras desses mundos diversos e imiscíveis sempre me pareceu o mais interessante.

Hoje, aos quase 22 + 1/2 anos de idade hoje, vejo que me direcionei bem mais ao universo racional, lógico, rígido e frio que muitas vezes critiquei no passado. Talvez por condicionamento que fiz a mim mesmo há alguns anos com o intuito de me tornar mais resistente aos obstáculos que vinham e problemas emocionais que poderia ter ou por mera evolução pessoal, acho que nunca saberei qual deles foi o estopim (isso se não for nenhum outro que, agora, não consigo pensar). Mas, independente da raiz, o fato é que muito do que me vejo hoje é algo que eu condenava há não muito tempo atrás. Me tornei o tipo de pessoa que nega um favor a alguém porque alega não ter tempo e ter "coisas mais importantes a fazer", que acaba bloqueando de sua mente lembranças queridas por isso não ser conveniente e nem logicamente correto e que criticaria qualquer um que deixou de tomar uma opção logicamente mais correta e justa em relação a uma mais agradável e guiada pelas emoções. Simplesmente não me permito mais me deivar levar pelo fluxo de sentimentos que possa me inundar, e nem conseguiria até se quisesse. Isso é considerado prejudicial e malévolo, emoções são sempre ruins, ainda mais quando não correspondidas ou ficam só no plano abstrato da idealização, etc e etc.

Eu tenho mais auto-controle e controle das situações em que me insiro? Sim, bem mais. Resisto e enfrento tudo muito melhor, fato. Mas a troco de quê? De uma vida mecanizada e descolorida, onde tudo tem que ser analisado e calculado com sete casas decimais de incerteza e nada que fuja a esse padrão possa ser aproveitado e degustado, nem que seja para meu bel prazer? Sim, sei também que o tal pós-moderno exige isso, de certa forma, é um ciclo a qual todos estaremos presos de algum modo, em alguma hora, por toda a eternidade em que vivermos. A vida nos incube de deixar cicatrizes que, quando saram, cauterizam em nosso ser de modo a torná-lo mais rígido e frio. Mas, então, até que ponto vale a pena viver assim? Até que ponto deixar de aproveitar momentos de hedonismo pelo bem do próprio hedonismo e pintar o céu azul de uma tarde ensolarada em tons de cinza é mais justo e benéfico?

Continuo não achando, ainda, que viver nutrido só por sentimentos é uma forma melhor de se viver. Não acho mesmo. Mas me sinto um tanto desgostoso de ver que uma característica que muito apreciava em mim mesmo se perdeu no limbo das cicatrizes existenciais, ainda que me sinta orgulhoso, paradoxalmente, disso que me tornei. Enfim, é uma discussão interessante que adoraria desenvovler por horas e horas para as paredes, mas a lua já se põe no horizonte (?) e preciso ir dormir (mesmo sem osno), pois amanhã preciso levantar cedo. Santa ironia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário