sábado, 12 de setembro de 2009

Anestesia Criativa

Não existem muitas coisas, em meio a vastidão imensurável do universo, capazes de me instigar e de fazer sentir minha espinha torcer em milhares de nós e rompê-los em espamos de catarse. Nunca consegui manter um leque de interesses muito grande, e entre aqueles que faziam parte dele, muitos tiveram vida curta. Mas uma coisa que sempre me instigou e me atiçou, de alguma forma, era a capacidade de transcendência e transfiguração que o poder criativo é capaz de realizar. A habilidade em tornar figuras mentais, paisagens oníricas e torrentes de sentimentos em pulsos harmônicos, letras versificadas ou traços coloridos numa tela em branco, dentre outras maneiras ainda mais incomuns, é algo que me impressiona e me rende muita admiração, sempre.

Pois então, desde cedo eu gostava de dar forma a esses espamos imaginetivos que se passavam na minha mente. Sendo uma criança isolada e dedicada muito mais a atividades solitárias, tentava desenhar. Nunca fui extremamente talentoso nisso, mas até poderia ter alcançado um bom nível se tivesse desenvolvido melhor minhas habilidades e dado continuidade a isso, algo que não fiz. Só voltei a me dedicar a alguma atividade criativa/artística aos 19 anos, tentando escrever. Vi que era capaz de modelar várias imagens e impulsos sinápticos através das letras muito mais do que eu mesmo pensava, e esse processo foi me fascinando e me fazendo querendo mergulhar mais e mais em seu mundo. Com uma maior maturidade e tendo criado um hábito de leitura, não foi muito difícil avançar e evoluir até atingir um nível que, para mim, está mais do que satisfatório. Esse mergulho, então, me fez admirar ainda mais esse tal processo de criatividade em si e os diferentes fins para o qual ele é usado, a partir do momento que podia enxergá-lo sob minha própria óptica.

Mesmo sendo um aluno exatóide, estudante de Física e outrora de Eng. Elétrica, universos regidos pelas mãos matemáticas e que prima muito mais pelo raciocínio lógico do que navegações criativas (ainda que elas se façam presente e necessárias, especialmente no primeiro), essa vontade de criar, transcender meus próprios limiares imaginativos e a estruturação de idéias e sentimentos, sempre esteve em mim, impressa em meu sangue. É ela que dá um pouco mais de cor e um perfume especial aos dias que se seguem, é ela que tornam as auroras um pouco mais radiantes e confere um charme enigmático ainda mais marcante as faces da noite. Mas é algo que, nos últimos meses (em especial de agosto para cá, mas já faz tempo que ela anda capengando), vem se arrefecendo mais e mais.

Parece que meus veios criativos obstruíram-se, e as corrente que nele pulsavam anestesiou-se. Como uma voz que cala-se não por não ter mais forças para gritar, e sim porque não sabe mais o que dizer. Existe um bloqueio, uma falta de quintessência e uma dureza inefável em tudo que vejo, toco, degusto e concebo por algum canal, seja qual for. Ok, muitos diriam que isso é fase (eu mesmo penso isso), mas não deixa de ser ruim ver a mim mesmo nesse estado. É como uma lacuna se formasse em algum lugar dentro de mim e não fosse capaz de impedir seu crescimento, tampouco de sentir a expansão de seu raio. Uma sede que se faz saciada não por satisfação, mas por ausência de si mesma.

É através de momentos e fases como essa que admiro ainda mais aqueles que tem esse cosmo criativo pulsando dentro de si como uma tormenta selvagem e insaciável, em plena ignição e ebulição todo instante. Muitos dizem que estudar Física e aprender as chaves para vários mistérios da natureza é de dificuldade extrema, mas penso que manter a criatividade num nível pulsante, constantemente, muito mais. E é isso que me faz revelar que, ainda que essa esfera do saber pelo criar seja algo que faz e sempre fará parte de mim, nunca será meu habitat. Nunca será meu mundo natural, nem hoje e nem amanhã. Aliás, tenho sérias dúvidas e indagações sobre o que poderia, afinal, ser esse "meu mundo", mas isso é uma outra questão, também profunda, e que renderia um post inteiro. Aliás, até deixo esse tópico como gatilho para um possível próximo post, que sabe-se lá quando irei escrever. Talvez quando a anestesia perder um pouco seu efeito, ou talvez nem isso.

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